Abandono – Mesmo com um ado tão cheio de histórias para contar, o Observatório de Caetité encontra-se, hoje, em estado de abandono. A reportagem não conseguiu autorização oficial para fotografar a parte interna do imóvel, mas pôde entrar e observar para, agora, relatar nestas páginas o que foi visto por lá. Também os funcionários do local, identificados apenas como senhor Nelson e senhor Gero, preferiram não falar. Segundo eles, não havia autorização para discorrer sobre o assunto. Mas eles permitiram a entrada da reportagem – o que possibilitou que a Olhaê pudesse compartilhar estas impressões com o leitor. No interior da casa, foi possível verificar diversos pontos de deterioração. O madeiramento do teto, por exemplo, encontra-se em péssimo estado. Nos cômodos, há muita sujeira – o que indica que há muito tempo não se faz ali um trabalho de limpeza. A escada que dá o ao primeiro andar, onde ficavam os instrumentos de medição, está em estado deplorável, com risco de desabamento. Outro ponto observado foram as instalações elétricas, que não oferecem segurança. Já na parte externa, onde não houve limitação ao trabalho de reportagem, as fotos que ilustram estas páginas falam por si. Na parte dos fundos, encontra-se o parque de medição que fornece dados para o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), autarquia ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. ‘Parou por aí’ – O professor universitário Sebastião Carvalho, ex-secretário de Cultura de Caetité, diz que, enquanto ocupou a secretaria (2012 A 2016), buscou formas de tentar salvar o prédio, porém sem sucesso. “Quando do governo do então prefeito Ricardo Ladeia, André Kohene, que é advogado e foi secretário de Cultura naquela época, criou a Lei de Tombamento, visando que alguns imóveis fossem tombados a nível municipal. Inclusive, a lei foi criada pensando nisso e, em especial, no caso do Observatório”, informa Carvalho. “Estivemos em Salvador em 2015 e entregamos um ofício para uma deputada que, de pronto, enviou uma equipe do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural [Ipac], que veio e fez todos os levantamentos necessários. Só que parou por ai”, disse o professor. Segundo Carvalho, o problema todo esbarra em uma única questão: quem responde pelo Observatório? “Estivemos em Brasília e ninguém dá conta disso [o Observatório]. O problema é que o antigo Ministério que era responsável pelo Observatório foi incorporado a outro. Ninguém sabe quem é que responde legalmente pelo prédio do Observatório. Na verdade, o Observatório é uma caixa–preta. Fica uma pergunta: quem é o “dono” por assim dizer, do prédio do Observatório? Se conseguirmos desvendar esse mistério, com certeza salvaremos o Observatório”, enfatiza o ex- secretário. A Prefeitura Municipal de Caetité afirma que existe um responsável. “O prédio pertence à União. O Observatório é de responsabilidade do Instituto Nacional de Meteorologia, atrelado ao Ministério da Agricultura”, defende Luiz Benevides, atual superintendente de Patrimônio da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer de Caetité. “Eles têm ciência da situação do prédio, porém não se manifestam. Infelizmente, a prefeitura se encontra de pés e mãos atadas, pois não se pode fazer nenhuma intervenção no prédio sem a devida autorização da União. Só para ter uma ideia, até para nós entrarmos no prédio foi necessária uma autorização. O que a prefeitura pode fazer, atualmente, é só a capina no terreno ao redor do prédio. E só”, conta Benevides. O superintendente informa ainda que o processo de tombamento do prédio do Observatório já vem ocorrendo há quase vinte anos, desde a gestão do falecido ex-prefeito Ricardo Ladeia. “O processo de tombamento é uma coisa demorada e vem acontecendo desde que André Kohene era secretário de Cultura de Caetité, há um bom tempo. Desde que eu cheguei à Secretaria de Cultura, estamos lutando para que isso venha a acontecer, pois todos em Caetité sabem do estado em que está o imóvel. Tentamos diversas vezes entrar no local para realizarmos uma limpeza, mas, infelizmente, o 4º Distrito Meteorológico [4°Disme], não autorizou nossa entrada. No local, nós encontramos muita sujeira. É triste ver um pedaço da nossa história se acabando com o tempo e sem nos permitirem fazer nada. Quem sabe já foi feito o tombamento e o documento que assegura isso possa estar em alguma gaveta, esquecido”, lamenta Benevides. Segundo o superintendente de Patrimônio, o Ministério da Agricultura já foi informado pela Prefeitura sobre o prédio, mas não deu nenhum tipo de resposta. A mesma reação é atribuída por Benevides ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Parece que, para eles, este prédio não existe. O Iphan desconhece a existência do prédio.Já acionamos o Ministério Público diversas vezes, inclusive alertando para a possibilidade de um desabamento do imóvel, que está em situação ruim. O que sabemos a respeito do imóvel é que hoje, apesar de pertencer a União, ele está sob a tutela do Governo do Estado da Bahia, que, inclusive, também não pode fazer nada. A Prefeitura de Caetité tem todo interesse em incorporar o prédio ao patrimônio municipal. Inclusive, a Uneb tem um projeto que visa transformar o local num Centro de Pesquisas e espaço de cultura para a comunidade caetiteense”, conta Benevides.